Início de uma vida e já uma ameaça. É por essa experiência contraditória que passam algumas gestantes que sofrem ao descobrirem um câncer de mama. O desafio não se limita ao dilema ético e psicológico da mulher; os profissionais que trabalham no tratamento de câncer também são duplamente desafiados pela situação. A quimioterapia e a radioterapia, principais formas de tratamento do câncer atualmente, trazem riscos para a integridade do feto. Por outro lado, a falta de tratamentos durante a gravidez ameaça a vida da mãe.
Embora o câncer de mama constitua o tumor mais frequente no sexo feminino, sua maior incidência é em mulheres com mais de 60 anos de idade. “Quando a doença ocorre em mulheres mais jovens, especialmente com menos de 30 anos, mais de 20% delas, na ocasião do diagnóstico, estão grávidas ou no primeiro ano após o parto. Assim, observamos que o câncer de mama na gravidez não é uma situação incomum na prática clínica. Entretanto, a atual tendência em retardar a gravidez, por motivos profissionais, culturais, sociais ou econômicos, para a quarta ou quinta década de vida, associada ao aumento da incidência dessa doença em todas as faixas etárias, nos faz vislumbrar um aumento da frequência de câncer de mama em grávidas”, explica o médico oncologista da Oncomed BH, Dr. Amândio Soares.
As evidências mostram que os exames de diagnóstico, de estadiamento e algumas formas de tratamento do câncer de mama da gravidez, dependendo da idade gestacional, oferecem riscos para o feto, que incluem as malformações, a prematuridade ou até mesmo a morte fetal. A consideração desses riscos, pela paciente, somados ao medo da própria morte e impossibilidade de ver o filho crescer, de um modo geral, provocam profundo impacto emocional na doente e dificultam o enfrentamento da doença.
As características histológicas e o prognóstico do câncer de mama durante a gravidez são semelhantes à doença que ocorre em pacientes jovens fora da gravidez. “Entretanto, nas mulheres grávidas ou durante a amamentação, usualmente o diagnóstico ocorre em estágios mais avançados, em função das alterações fisiológicas que acontecem na mama nesse período, como o aumento do volume e da densidade do tecido mamário. Essas alterações dificultam a percepção do tumor pelo exame físico ou pela mamografia”, completa o médico.
O tratamento da gestante com câncer de mama tem o mesmo objetivo da paciente fora do período da gravidez, isto é, a cura. No entanto, a forma de tratar precisa ser cuidadosamente avaliada em função dos potenciais efeitos adversos para o feto.
O tratamento cirúrgico pode ser feito com segurança em qualquer fase da gravidez com risco fetal mínimo e o tipo de cirurgia indicada, seja ela conservadora ou radical, segue os mesmos conceitos das pacientes não grávidas.
“A indicação de quimioterapia após a cirurgia também segue os mesmos critérios para as pacientes fora do período de gravidez, porém, o momento de iniciar esse tratamento tem de ser avaliado com muito critério, procurando minimizar os riscos para o feto”, alerta Dr. Amândio.
Nem sempre é possível esperar o fim da gestação. A quimioterapia tem contraindicação absoluta no primeiro trimestre da gravidez, pois o feto está em formação e, nessa fase, quando exposto a essas medicações, existe grande risco de malformações. A administração da quimioterapia no segundo ou terceiro trimestre da gravidez tem se mostrado bastante segura, porém, algumas medicações, como o metotrexato, devem ser evitadas.
Em relação à radioterapia, que pode ser necessária em algumas situações, especialmente quando a paciente é submetida à cirurgia conservadora, nunca deve ser indicada no período da gravidez. Felizmente, a radioterapia pode ser protelada até o final da gestação, sem prejuízo nenhum no resultado do tratamento.
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