Fundada em 1961, na Rádio Nacional, orquestra de Niterói interpreta, em novo disco, obras inéditas de importantes compositores em atividade, como Marisa Rezende, Rami Levin, Pauxy Gentil-Nunes, Alexandre Schubert e Sergio Roberto de Oliveira
Há projetos que nascem de oportunidades e outros que nascem simplesmente de uma enorme vontade de realizar junto. E esse projeto surgiu exatamente desta última forma: a compositora americana Rami Levin e o compositor e produtor carioca Sergio Roberto de Oliveira queriam realizar um CD juntos, além do desejo deste em sacramentar em disco a parceria com a Orquestra Sinfônica Nacional, bem como poder reunir outros nomes expoentes da composição erudita contemporânea. Assim, a Orquestra Sinfônica Nacional, integrada ao Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense (Niterói – RJ), em parceria com a gravadora A CASA Discos, lança neste momento seu mais novo CD “Orquestra Sinfônica Nacional interpreta Compositores de Hoje”, trazendo no repertório um importante recorte da cena erudita, a partir de obras inéditas de compositores vivos e atuantes, como Marisa Rezende, Pauxy Gentil-Nunes e Alexandre Schubert, além dos próprios Sergio Roberto de Oliveira e Rami Levin. Com direção artística e regência do maestro Tobias Volkmann, o disco, que conta ainda com participações especiais dos solistas Cristiano Alves (clarinetista) e Aloysio Fagerlande (fagote), será lançado com um grande concerto reunindo todos os participantes no próximo dia 23 de outubro, domingo, às 17h, na Sala Ceclília Meireles, Lapa. O concerto faz parte da 4º edição do Festival Internacional Compositores de Hoje, que há quatro anos traz compositores e intérpretes de todo o mundo, e, desta vez, dedica sua programação exclusivamente ao lançamento do disco.
O CD abre com “Phoenix”, uma obra autobiográfica de Sergio Roberto de Oliveira, compositor e produtor por duas vezes indicado ao Grammy Latino em categorias de Música Clássica, que aborda as mortes e renascimentos na vida do autor. Composta e dedicada ao clarinetista Cristiano Alves e à própria orquestra, após uma introdução, a obra alterna momentos de júbilo, em quase 15 minutos de duração, que celebram o renascimento e os momentos difíceis do compositor.
Construída em dois momentos contrastantes, embora guardem similaridades, “Expressões”, da compositora Rami Levin, foi escrita em 2015, também dedicada à orquestra e começa com o primeiro movimento (“Refletivo”) caracterizando um ambiente de calma e reflexão . O acorde inicial revela-se lentamente nas cordas e flauta, nota por nota, sobre o tímpano leve ao fundo. Uma melodia aparece na flauta, acompanhada por acordes nos sopros e metais, e passada em seguida para o fagote. O mesmo acorde do inicio reaparece sob forma retrógrada na flauta e cordas. O movimento termina com uma retomada da melodia original na flauta acompanhada pelas cordas e tímpano, sempre preservando o ambiente inicial. Já o segundo movimento (Efusivo) revela um estado de espírito que combina o resoluto e indócil ao audacioso, expressando determinação e destemor. Três motivos musicais são desenvolvidos de formas distintas durante o movimento. O primeiro é uma série de notas repetidas, inicialmente nos trompetes e percussão, depois nos sopros e cordas. O segundo consta de acordes revelados uma nota por vez (como no primeiro movimento), apresentados nos metais e sopros, e depois nas cordas. O terceiro, rítmico usando quiálteras de três, permeia todo o movimento. Efusivo abre energicamente apresentando sucessivamente os motivos. Após a uma seção mais leve com melodias nos sopros, a energia de início do movimento retorna, cresce, e a peça conclui-se com brilho atingindo seu ponto culminante.
Para orquestra de câmera, “Fragmentos”, da carioca e consagrada compositora e pianista Marisa Rezende – premiada neste ano com a medalha Villa-Lobos da Academia Brasileira de Música como reconhecimento por sua obra - é inspirada pela oposição entre o músico, em seu anseio por liberdade, e a orquestra, dominadora. Campos harmônicos distintos marcam seus pequenos trechos, expostos à expansões e retrações da massa sonora, pontuando também essa oposição.
Outro nome de relevo da cena contemporânea, Pauxy Gentil-Nunes dedica ao fagotista Aloysio Fagerlande sua composição “Variações para fagote e orquestra”, escrita em 2014. Como o título indica, é uma coleção de variantes de uma estrutura fixa, composta por 12 sonoridades, que se apresentam em ordem inalterada por toda a obra e sem sofrer nenhum tipo de derivação. Este procedimento, aparentado da chacona e da passacaglia, tem sido usado desde 1985 em algumas peças como uma maneira de produzir superfícies e texturas variadas, em concepção rapsódica e eclética, porém conectadas por um princípio unificador forte, que se situa entre uma série e um sistema harmônico. A distribuição das texturas foi organizada de forma sistemática com o uso da Análise Particional, teoria analítica e composicional do mesmo autor.
Em “Jornada fantástica num trem de ferro”, Alexandre Schubert propõe uma viagem imaginária por meio da música, vista como uma metáfora de nossos sonhos, nos transportando a lugares e situações que fazem parte de nosso inconsciente. Divide-se em cinco movimentos. “Estrada de Ferro” descreve o nosso transporte, a máquina que se move em trilhos que dão a impressão de um único caminho possível: ir em frente. “Ermo” é um olhar para fora, para a vastidão da paisagem imaginária, que nos remete ao nosso interior. Nesse interior surge o “Jeca-Tatu”, a figura lúdica da simplicidade, da pureza de sentimentos e ações. Encontramos um “Santuário”, onde depositamos nossas esperanças, como oferendas, e desejamos estar em harmonia com o Cósmico. Surgem “Lembranças” que nos levarão de volta ao caminho para a “Metrópole”, ao burburinho da vida e à “Estação Final”.
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