quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
Sergio Roberto de Oliveira e Mark Hagerty celebram a amizade e parceria musical de 15 anos em segundo disco autoral, dia 04/12, sexta, em dois horários, na Sala Cecília Meireles
Três anos após reunirem suas obras no CD “Luminosidade”, os compositores Sergio Roberto de Oliveira e Mark Hagerty (EUA) apostam novamente na dobradinha autoral e lançam o segundo disco, “Pares”, também pela gravadora carioca A CASA Discos, desta vez convidando os duos Santoro (violoncelo) e Bretas-Kevorkian (piano) para registrar com elevada sofisticação suas criações musicais. O lançamento oficiak será dia 04 de dezembro, sexta, no Espaço Guiomar Novaes, na Sala Cecília Meireles, em dois horários, às 12:30h e 18:30h. Há pelo menos 15 anos, as músicas dos compositores já têm sido tocadas, lado a lado, pelo grupo americano Mélomanie, o que os tornou parceiros musicais, embora com linguagens distintas, mas “complementares”: ao mesmo tempo que são diferentes, combinam quando ouvidas juntas.
A linguagem conceitual do novo disco, em torno dos números pares, inspirou os compositores a convidar os gêmeos violoncelistas Paulo e Ricardo Santoro, e as pianistas Patrícia Bretas e Josiane Kevorkian, explorando todas as combinações dos duos: obras para dois violoncelistas, para duas pianistas, e para violoncelista e pianista. Estas simetrias contrastam com as personalidades musicais individuais, com grandes diferenças nas abordagens e vozes dos compositores. Estados de Espírito (States of Mind), de Mark Hagerty escrita especialmente para o Duo Santoro e estreada pelos próprios no Festival Internacional Compositores de Hoje 2013, no Rio, impressiona pois parece saltar sua veia musical brasileira. A obra possui doze movimentos entremeados por um “Contorno” (“Contours”), com movimentos diferentes, nos levando por caminhos surpreendentes: às vezes líricos, outras pictóricos, ruidosos, abstratos, sérios e cheios de humor. Segundo Mark, é música para instrumentistas dispostos a uma aventura – uma aventura técnica e expressiva, adiciona Sergio Roberto de Oliveira. Um dos movimentos tipicamente brasileiros, “Libertação”, foi inspirado no arranjo que Oliveira estreou nos EUA, em 2013, de “Eu só quero um xodó”, do Dominguinhos.
A obra de Hagerty para dois violoncelos foi escrita após o americano ouvir “Ao Mar”, de Sergio Roberto de Oliveira também escrita especialmente para os gêmeos, uma das faixas do disco. Para o americano, a obra de Oliveira é uma evocação meditativa do mar, com uma bela melodia africana tradicional, como oferendas para Yemanjá que flutuam no oceano. A música inspirou um videoclipe - filme poético em preto e branco – lançado no ano passado, com direção de Alex Araripe e participação dos irmãos e da soprano Gabriela Geluda.
“Baobá”, uma de várias obras do compositor brasileiro que são homenagens a árvores específicas, é inspirada também no livro O Pequeno Principe de Antoine de Saint-Exupéry, no qual o baobá, com seu sistema agressivo de raízes, apresenta uma ameaça para a Terra. Para Oliveira, a composição é um paralelo com o ego potencialmente destrutivo do artista (do compositor), já Hagerty entende as harmonias complexas do amigo como uma extensão e um aprofundamento harmônico e estados de espírito do jazz brasileiro: “a obra vai de massas sustentadas de som a momentos de energia urgente e vigorosa, com ramificações de harmonias mais confortáveis até reinos sem a possibilidade de descrição, sem qualquer ligação terrestre”, afirma o americano.
“Catálise” (Catalysis), composição de Hagerty escrita para o Duo Bretas-Kevorkian, parte da repetição de uma única nota (dó) e promove reações em cadeia, um turbilhão de notas, de ritmos, de dinâmicas. A indicação “Allegro, mechanico ma gioioso” (mecânico mas alegre), dá uma pista do que o compositor deseja, atingindo com brilhantismo pelas mãos das pianistas. Para Oliveira, a música do americano “é um turbilhão de sentimentos, que, acelerados pela música, se agitam”.
Obra de Oliveira que dá nome e conceitua o disco, “Pares”, executada por Ricardo Santoro e Patrícia Bretas, começa lenta, profunda e misteriosamente, com acordes repetitivos que emergem, uma citação bem-humorada do Sacre du Printemps de Stravinsky. “Embora a estrutura de mudanças de comprimentos dos compassos, e portanto, de tamanho de frase, siga uma fórmula rígida, o efeito é orgânico e imprevisível”, comenta Hagerty sobre a peça brasileira.
Em “Metamorfoze”, Mark Hagerty faz referência aos mitos gregos e à poesia romana. Estreada por Paulo Santoro e Josiane Kevorkian, foi composta por encomenda do violoncelista romeno Ovidiu Marinescu. Mark, com ironia sutil e delicada, faz uma homenagem ao poema “As Metamorfoses”, obra-prima de Ovídio, romano que nasceu pouco antes de Cristo e morreu justamente na Romênia. Sobre a obra do americano, Oliveira sente “as transformações gentis, brandas, com transições tão cuidadosamente preparadas nos nossos ouvidos, que por mais que as transformações sejam surpreendentes, quase que conseguimos antevê-las... o compositor nos pega pela mão, nos levando a um mundo fantástico, cheio de surpresas e transformações”.
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