sábado, 16 de junho de 2018

O TERROR NO QUINTAL DA INTERVENÇÃO FEDERAL


Esposas e familiares de militares apavorados se escondendo junto com funcionários em baixo das mesas do círculo militar na Urca; mais de uma centena de turistas abrigados em pânico no alto do pão de açúcar; Oficiais de alta patente encurralados em seus gabinetes nas unidades militares; soldados armados abrigados e sem saber o que fazer diante da situação; essas cenas de caos poderiam ser parte de um roteiro de Hollywood sobre Terrorismo, mas fizeram parte de mais um dia de violência na cidade do Rio de Janeiro.

Mas, desta vez o alvo foi o bairro da Urca, até então tido como “ilha” de segurança em meio à criminalidade, sede de diversas organizações militares, inclusive, das escolas de altos Estudos das forças armadas, e tradicionalmente conhecido por sua paz e tranquilidade, mas infelizmente a última fronteira foi rompida e desta vez a criminalidade adentrou ao quintal da intervenção subjugando aqueles que comandam a nossa segurança.

Esse triste evento marca e coloca em cheque a Intervenção Federal no Rio de Janeiro e trás a tona a falta de planejamento estratégico e o desconhecimento das particularidades da segurança pública, pois a perda de controle durante uma simples operação policial no morro da Babilônia uma das menores comunidades do Rio de Janeiro, com cerca de 4.000 moradores, muito menor do que comunidades como o complexo do alemão, Complexo do Lins e da maré, expõe as fragilidades da segurança pública e o desaparelhamento do sistema policial no estado.

A falta de planejamento faz com que se realizem operações subestimando-se o poder de fogo do adversário, sua posição estratégica no terreno e suas possíveis rotas de fuga, levando também a falta de comunicação entre os órgãos que compõem o sistema de segurança da intervenção, pois sequer as unidades militares que ficam sediadas na Urca foram previamente alertadas da operação e tiveram a oportunidade de elaborar um plano de contingência para tal situação de perigo, ou prover o apoio necessário e imediato a polícia militar.

Como saldo, além de alguns fuzis apreendidos, tivemos o Aeroporto Santos Dumont paralisado e a interrupção pela primeira vez na história do tradicional bondinho do pão de açúcar por motivos de violência, colocando novamente de forma negativa a imagem do Rio de Janeiro nos principais noticiários do mundo e causando milhões de prejuízo ao já doente turismo da cidade.

Tudo isso resultado de uma falida política de segurança, e de operações policiais que se repetem nos mesmos moldes nas últimas décadas, sempre trazendo os mesmos resultados que se repetirão enquanto o Estado pensar em combater a criminalidade utilizando somente a polícia (desgastada, desaparelhada, mal paga e mal treinada) em detrimento de outras medidas como a educação, assistência social, cultura, esportes, saneamento básico, habitação e um amplo programa de geração de emprego e renda em substituição a narcoeconomia, únicas formas de se reintegrar essas comunidade a cidade do Rio de Janeiro, e impedir que nossos jovens se alistem nas fileiras do tráfico de drogas e da criminalidade.



Prof. José Ricardo Rocha Bandeira

Comentarista e Especialista em Segurança Publica

Presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais

da América Latina

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